Ser juiz e ser cristão

04/03/2013. Enviado por

Uma breve observação sobre o quanto é difícil ser juiz e cristão nos nossos dias e fazer a justiça sempre, que é a função do julgador.

É bom ser juiz

É bom ser cristão e seguir uma doutrina religiosa.

Ser os dois é bom? Você gostaria de ser?

Há muito venho pensando que entre ser justo e fazer justiça há uma grande distância.

O “ser justo” não existe uma definição para dizer que justo é “aquilo’ e pronto.

Platão dá um fundamento colocando a justiça como uma virtude universal com características psicológicas, políticas, éticas e jurídicas.
É justiça que garante a coesão do todo e que permite e coordena toda a harmonia e hierarquia do todo social que é a comunidade. Ainda na ótica deste filósofo grego conjuga-se com várias outras virtudes morais, como a temperança, fortaleza e prudência, para o ser (indivíduo) e para a sociedade. Consiste nas virtudes morais
Então, para ser justo, de fato, é preciso conhecer a essência da justiça, algo que só é próprio do filósofo. Uma vez que a vida justa é que faz o homem ser o que ele é, o homem só é plenamente homem quando é filósofo. A “vantagem” da justiça seria, talvez, a de ser humano.

Conversado com um amigo (Rui Remédio) começamos a pensar o quão complicado é ser juiz. Quando se é um juiz, deve-se velar pela justiça, pois o judiciário visa exatamente isto.

Agora vejamos um caso prático, o juiz vai a um culto, uma missa, um encontro, uma reunião, ou seja lá qual for o termo utilizado, e é discutido a pena de morte e o aborto. Uffa!!! Pena de morte não existe no Brasil, e o aborto?

Irão me dizer que não está legalizado. E aí que está o engano, é legalizado sim, em determinados casos é permitido, e previsto em lei.

O aborto é crime no Brasil, um crime contra a vida. Porém, não é qualificado como crime quando praticado por médico capacitado em três situações: quando há risco de vida para a mulher causado pela gravidez, quando a gravidez é resultante de um estupro ou se o feto for anencefálico(desde decisão do STF pela ADPF 54, votada em 2012, que descreve a prática como “parto antecipado” para fim terapêutico). Nesses casos, o governo Brasileiro fornece gratuitamente o aborto legal pelo Sistema Único de Saúde.

A pessoa deverá se socorrer ao poder judiciário para conseguir esta autorização. E o juiz fica algemado à lei, se a lei permite, assim deve ser. Tendo provas concretas dos motivos previstos em lei que concede esse direito à gestante, não há de se negar.

Mas e a consciência cristã, onde fica? Não podemos dizer que em casa. Quando se opta prestar um concurso para juiz já sabe o que vai enfrentar, casos e mais caso (como me disse meu eterno professor Cyro Sanseverino), esse foi só um exemplo, mas há vários outros em que a decisão da justiça esbarra na religiosidade.

Mas e no íntimo do “ser humano” juiz, será que está tudo assim bem resolvido? Aquele que faz justiça se sente justo diante de Deus?

Você ter o poder de absolvição e condenação nas mãos é quase ser Deus, poder decidir algo que irá mudar a vida de alguém é algo fantástico, mas na maioria das vezes uma parte há de sucumbir, e esta mesma parte irá criticar o julgador.

Criticar é fácil, todos criticamos algo que não está do nosso gosto.

Mas devemos pensar que o juiz tenta fazer justiça com o que é colocado em suas mãos, provas, nada mais. Erra? Sim, muito. Acerta? Também, quase sempre. Faz justiça? Sim, o tempo todo, porque agem de acordo com suas convicções jurídicas.

É justo no verdadeiro sentido da palavra? Não, nem sempre, porque muitas vezes deverá ser deixada a religiosidade e doutrinas internas de lado e julgar de acordo com os ditames da lei.

Por isso hoje, acredito mais que nunca, que ser juiz não é para qualquer um, é para “os escolhidos” por uma força superior.

Assuntos: Direito Administrativo, Direito Civil, Direito do Trabalho, Direito Penal, Funcionário público, Trabalho

Comentários


Conteúdo Relacionado

Fale com advogados agora


Compartilhe com seus amigos

Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Google+