Viver nas grandes cidades torna-se a cada dia um sofrimento maior para a maioria

08/10/2013. Enviado por

Viver na cidade grande era sinônimo de status. A vida urbana traz opções ausentes em cidades do interior. Contudo, o crescimento do volume do tráfego mexeu negativamente com a mobilidade urbana e piorou a qualidade de vida do cidadão que labora.

“O Brasil, longe de ter a cultura da educação, tem a cultura da ignorância, que as crianças aprendem desde cedo. Melhor que ser um bom aluno é ser esperto, é colar sem o professor ver e comprar as respostas da prova para obter diploma. Longe de gozar do alto status social existente em países desenvolvidos, o professor é humilhado e desprezado pelos governantes, é agredidos pelo aluno na sala de aula com uma frequência alarmante e, não raro, os pais do agressor ainda se pensam no direito de ir tomar satisfações na diretoria”. (Cora Rónai).

Georg Simmels descreveu a vida nas grandes metrópoles como uma mescla de reserva, frieza e indiferença. A visão do sociólogo alemão contrasta com o modus vivendi que há em cidades pequenas, que se apoia em relações próximas e afetivas. Os cânones da modernidade social, ao afastar o senso comum superficial, sugerem que viver em grandes cidades é partilhar indiferença, rivalidade, angústia, amor e culpa.

Maria Rita Kehl criticou as contradições das grandes cidades que levam ao desencanto e estão na raiz das mobilizações que afloraram no país em junho. Para a psicanalista, o pior problema é a desigualdade social, onde um mesmo espaço é distinto para as diferentes classes sociais.

A psicóloga social Kehl relacionou juventude, violência policial e desigualdade, sendo que esta destoa na medida em que o lugar onde reside a moça que faz a faxina não é o mesmo do patrão, embora ambos pertençam ao mesmo município.

Para ela, a geração jovem que sacudiu as ruas está desencantada e expos duas desilusões. A primeira são as denúncias de corrupção do PT, lembrando que a grande mídia, no Brasil, é ultraconservadora e de direita. A outra é com a política e os políticos em geral, não apenas com os petistas.

Há contradições. Não é suficiente melhorar a renda para se promover a igualdade. É preciso assegurar a autonomia. A juventude pode mudar esse sentimento de desencanto, fruto das desilusões. Hoje, ela está mais sensível e menos resignada. Inaugurou a vida cidadã.

Subsiste a ideia de que a juventude é a esperança de mudança do futuro, não pelo que fará no futuro, mas agora. No futuro, todos estarão adultos e barrigudos. É hoje que a juventude traz a esperança, ao se indignar e denunciar.

No campo social, ainda se vislumbra no Brasil uma classe patronal extremamente injusta. Não há pudor em explorar. Se pessoas mais humildes recebem a Bolsa Família, classes abastadas reclamam que o dinheiro sai dos impostos por elas pagos.

No caso da PEC das domésticas, Danuza Leão [colunista da Folha de São Paulo] escreveu que é até justo o empregado doméstico ter horário para trabalhar. Questionou, porém, como fica o ‘direito dos amigos dela’ de tomar chá depois das 22h.

São pessoas fechadas num mundo próprio que não se tocam. Elas acham que a doméstica ter hora para dormir lhes retiraria o direito de tomar o chá. A alienação é muito profunda, sutil. Essa elite não aceita o empregado como sujeito de direitos iguais, mesmo após a abolição da escravidão. Prevalece a cultura da casa grande e senzala.

Em plena democracia, a brutalidade estatal contra os mais pobres e a tortura valem. Entretanto, isso não sai na mídia. As polícias continuam militarizadas. Na maioria dos Estados, interessa ao governador que continue o terror que a polícia espalha nas classes mais baixas.

O Estado ostenta viés autoritário em suas relações com a população. Se o indivíduo vai à repartição pública, é maltratado e é considerado um cidadão de segunda categoria. Falta informação e não lhe é explicado por que a consulta médica só é agendada dali a seis meses, o motivo pelo qual o médico não veio nem para onde ir. O autoritarismo é cotidiano, sintoma que remanesce dos sombrios tempos da ditadura.

Assuntos: Direito Administrativo, Direito Civil, Direito no trânsito

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