Ambientes de trabalho hostis estressam e deprimem. A depressão causa morbidade.

13/07/2012. Enviado por

À medida que o trabalhador tenta adaptar-se à globalização, o equilíbrio entre centro, periferia, hierarquia, superioridade e inferioridade se revela deficiente. As condições de vida, as oportunidades e ameaças tornam mais infelizes os brasileiros.

A sociedade oferece poucas opções para se viver com dignidade aos que chegaram à terceira idade. Numa época em que até mesmo a quarta idade se mostra ativa, isso é cruel”. (John Madden, diretor do filme “The Best Exotic Marigold Hotel”).

Na desgastante adaptação da força de trabalho brasileira à dinâmica global, o equilíbrio de forças entre centro, periferia, hierarquia, superioridade e inferioridade se revela deficiente. Nas condições globalizantes, necessárias para que se desfrute de uma vida decente e agradável, brilha luminosa a estrela da paridade [1] onde luzira o astro da igualdade.

Nesse percalço, condições de vida, oportunidades e ameaças não cessam de mudar. Falece, em decorrência, o sentimento de felicidade e surge a depressão nesse cenário desafiante, de convivência hostil e sobrevivência difícil, na dinâmica adotada, tanto em organizações privadas como públicas.

Nesse percalço, condições de vida, oportunidades e ameaças não cessam de mudar. Falece, em decorrência, o sentimento de felicidade e surge a depressão nesse cenário desafiante, de convivência hostil e sobrevivência difícil, na dinâmica adotada, tanto em organizações privadas como públicas.

Trabalhar em ambientes rudes ou agressivos, onde colegas de trabalho não se tratam bem, nem existe respeito faz mal. É preferível mudar de ambiente e aceitar novos desafios.

Vicky Bloch, psicóloga, consultora especializada em realocação de executivos no mercado de trabalho, estuda as pressões em ambientes de trabalho, causadoras de stress e depressão e a forma pela qual a excessiva cobrança sobre os profissionais influencia o cotidiano.

A consultora detectou que parcela considerável dos executivos brasileiros se diz insatisfeita com a qualidade da gestão nas organizações. Esse fator, aliado a pressões despiciendas, causa stress. Seu estudo revela que metade dos profissionais está descontente com as excessivas cobranças.

Como saber se há exagero? Como comparar com o nível de exigência em outras empresas? Se, de fato, houver excesso de atribuições, como se deve abordar o gestor?

Muitos profissionais sentem intensa pressão no dia-a-dia. Como devem agir? É preciso identificar claramente o que, de fato, pressiona. Às vezes, descobre-se que o problema está dentro da própria pessoa, diferentemente da realidade.

Decerto, a pressão tem origem no ambiente de trabalho e pode estar acima da razoável, mas importa é a maneira como chega. O subordinado pode até aceitá-la, desde que de maneira justa, com sua participação e, ao final, o comprometimento. Assim, ainda que haja cansaço físico, não haverá desgaste mental.

O que não dá é ter de aceitar a falta de educação e o autoritarismo. O desgaste acontece em razão do jeito como as coisas são impostas, de o nível da exigência estar acima do suportável e de não saber dizer não ou colocar limites. É importante dizer ao chefe que a tarefa determinada, nesse caso, não cabe na jornada de trabalho diária.

Myrian Matsuo, psicóloga e doutora em Sociologia pela USP, pesquisadora da Coordenação de Saúde do Trabalho da Fundacentro, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, mostra dados que comprovam que a relação entre stress e aumento da produtividade é inversa.

O stress pode ser corolário da alta pressão recebida no labor. Alexandre Cury, palestrante médico internacional, aponta que é elevadíssimo o contingente de pessoas que sofre do mal do século: a depressão. Para ele, os brasileiros, ao contrário do que se pensa, não se sentem tão felizes assim.

O médico explica que a depressão atrapalha a vida, prejudica o dia-a-dia e pode ter caráter recorrente. O paciente muitas vezes se trata e volta a sofrer iguais sintomas. Estudos mostram que esse mal se associa a uma morbidade maior. Por isso, deve-se diagnosticar e tratar.

Segundo Mirna Khoda, doutora em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP, “a cultura do individualismo e da competitividade observada nas exigências sobre o sujeito” e “a cultura do individualismo e da competitividade inerente ao modo de organização social atual afeta os modos de sociabilidade entre as pessoas”.

A doutora prossegue: “ao abordarmos uma sociedade competitiva e individualista, estamos falando que os vínculos de confiança no outro estão fragilizados. Essa configuração, somada à fragilidade dos apoios do sujeito na comunidade, com relação ao trabalho, a seu sustento financeiro e, muitas vezes, inclusive no grupo familiar, coloca a pessoa constantemente numa situação de insegurança e desamparo”.

Como diferenciar a depressão de uma eventual angústia, tristeza ou stress passageiro? Há vários tipos de classificação. Os critérios que compõem essa síndrome e seu diagnóstico incluem a presença de determinados sintomas que persistem pelo menos durante 15 dias.

Dentre os principais indícios de depressão, destacam-se dois: um é perder o prazer nas atividades que, antes, eram prazerosas; outro é manter um humor deprimido, uma sensação de baixo astral, de humor sempre para baixo e sem grande motivação.

Os principais sinais que compõem o diagnóstico são: sentimento de culpa, baixa autoestima, prejuízo do sono, apetite irregular (excesso ou ausência), perda de energia, falta de concentração e ideia de suicídio. Os sintomas compõem um quadro, perduram e prejudicam o comportamento normal da pessoa.

Viver num país desenvolvido ou em desenvolvimento influencia? Até recentemente, estudos mostravam apenas as diferenças nos índices de depressão grave entre os países. Era ignorado se essas diferenças se deviam à metodologia ou a fatores genéticos e psicossociais.

O episódio depressivo maior (MDE) teria ligações com as condições sociais dos países. É o que apontou um estudo que reuniu dados epidemiológicos de 18 países, inclusive o Brasil. Os resultados estão no artigo Epidemiologia Transnacional do MDE, publicado em 2011 e disponível na revista BMC Medicine [2].

Os países foram divididos em grupos de alta, baixa e média renda. Pesquisou-se a prevalência de MDE em cada população nos últimos 12 meses. Nos países em desenvolvimento, destacou-se o Brasil com 10,4%, o maior nível observado. China, Índia e Colômbia tiveram índices inferiores.

Nos países desenvolvidos, os USA lideraram o ranking. 8% dos americanos apresentaram MDE. Nova Zelândia, Israel e França também apresentaram taxas elevadas. Os desenvolvidos com menores índices foram Itália, Alemanha e Japão.

A depressão é multicausal e tem componentes genéticos e psicossociais. Em suma, ao contrário da infundada crença, não se pode acreditar que os brasileiros são o povo mais feliz. Achar que vivemos no país da alegria, do samba, do futebol, da ‘malandragem’ e do carnaval não funciona.

Esse estereótipo não ajuda. Dizer que a sociedade brasileira é cool, light e que somos o povo mais feliz do planeta é uma falácia! Não somos! Provavelmente nunca fomos!


[1] Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, explica, através da teoria da modernidade líquida, que o sentido é o de uma igualdade despojada de igual ou pelo menos equitativo direito de reconhecimento ao “direito de estar” e, caso necessário, de ser deixado em paz. Significa ter direito à autodefinição e autoafirmação, ter chances reais de atuar de modo efetivo em favor e a partir desse direito.

[2Major depression is one of the leading causes of disability worldwide, yet epidemiologic data are not available for many countries, particularly low- to middle-income countries. In this paper, we present data on the prevalence, impairment and demographic correlates of depression from 18 high and low- to middle-income countries in the World Mental Health Survey Initiative.

Assuntos: Ambiente de trabalho, Direito do Trabalho, Direitos trabalhistas, Trabalho

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