A má comunicação nas relações entre líderes e liderados desmotiva

08/10/2013. Enviado por

A maioria dos gerentes não está capacitada para lidar com os liderados. Muitos pensam os subordinados como máquinas e a empresa como sistema impessoal a ser operado

“O amor não é um produto acabado. Amor se cultiva, lapida, estimula e morre, mesmo sendo real. E ainda renasce, mesmo estando morto. O amor não é genético, não se nasce sabendo amar, você aprende a amar”. (Augusto Cury).

Quase sempre, salvo dom natural, gerentes e chefes não estão preparados e nem capacitados para saber lidar com as pessoas. Sua preocupação é com a fatia de poder acompanhada de um adicional gerencial. Muitos se pensam e tendem a pensar seus subordinados como máquinas e a empresa como um sistema impessoal a ser operado. Não é difícil encontrar um líder que trata seus liderados como se invisíveis fossem, induzindo, destarte, a dimensão irracional humana.

Na mesma linha por onde trilha a máxima “de boas intenções o inferno está cheio”, desenha-se um paralelo: “de maus gerentes os serviços público e particular estão repletos”. A má gestão no país é causa “invisível” da extinção de órgãos ou empresas.

O problema, nos setores público e privado, esbarra na dificuldade de se mexer no tema, pela peculiaridade política da escolha, em detrimento da técnica. Apesar da tecnologia, é frequente a liderança do tipo “capataz”, aplicada para supervisionar e cobrar, com rigor, mais e mais produtividade.

Essa espécie de liderança negativa costuma adotar lemas para intimidar e impor: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo!”, “Cuidado, aí fora está muito pior!”, “Quem não cumprir as metas receberá má avaliação de desempenho e poderá ser demitido!”. Esse viés negativo revela o quão autoritária é ou pode ser a forma de comunicação do poder.

Falta, faltou e faltará boa comunicação nessa modalidade de comando. Trata-se de primevo gerente, se for levada em conta a psicologia do trabalho. Já se percebeu a importância de “fazer o que se gosta” para produzir mais e melhor. Afinal, passamos a maior parte e o mais precioso tempo da nossa vida, vinculados ao ambiente de trabalho.

O aumento da expectativa de vida fez com que servidores federais, homens, fiquem na atividade por mais de quatro décadas, enquanto o empregado que contribui para o INSS, 30 a 35 anos. A expectativa é de que, em breve, homens trabalharão durante cinco décadas para fazer jus ao benefício de aposentadoria. Imaginar tal perspectiva, nas atuais condições de trabalho, causa gastrite, cardiopatia e doenças psíquicas.

As imposições e ameaças têm reflexos negativos sobre a eficiência e a produtividade. Ignorar as necessidades pessoais e a sensibilidade dos liderados faz declinar o rendimento individual e o da equipe. Deve o gestor, portanto, se ver e se perceber de fora para dentro e estar preparado para controlar seu impacto sobre os demais.

O filósofo alemão Alex Honneth destacou a importância de saber escutar. A boa comunicação depende de a pessoa estar atenta e ser capaz de entender com clareza o que foi dito. Parece simples. Não é. Aí ocorre o maior número dos erros e dos equívocos. É preciso verificar a correção da compreensão e aferir se o que foi compreendido é, de fato, o que se quis transmitir. Frequentemente não é. Impõe-se afirmar, antes de tudo, a imprescindibilidade de uma comunicação eficaz.

As preconcepções e os achismos da parte do líder costumam dar azo a subjetivismos equivocadas e viciados. É comum o gerente avaliar o subordinado segundo critérios abstratos e CULPÁ-LO, simples e levianamente. Dizia Millôr Fernandes: “Errar é humano! Colocar a culpa no outro é estratégico!”.

Há quem veja servidão na extensa carga horária de trabalho vigente - 44 horas semanais. A questão da mobilidade urbana pior foi um dos motivos das manifestações de rua em junho. O trabalhador, considerando o almoço, o transporte coletivo e a jornada diária de trabalho, gasta mais de doze horas ao dia. Friedrich Nietzsche, filósofo alemão, compreendia que é forma velada de escravidão, o que significa retrocesso e aumento da exploração.

Diante disso, cumprir oito horas diárias, meramente, não parece produtivo. A cada dia, mais organizações adotam o horário flexível. A “liberdade” foi aceita em razão do trânsito caótico e da imprevisibilidade de horário do transporte urbano. Não basta, contudo, acatar o horário flexível. O líder precisa ser flexível a ponto de não deixar os liderados constrangidos de desfrutar do “benefício”.

No âmbito geral, as partes ganham com o horário flexível: a empresa, além de ver mais bem usado o tempo, terá colaboradores motivados e produtivos, enquanto estes conciliarão a vida pessoal e profissional.

Trabalho remoto e flexibilidade de horário são diferenciais oferecidos por empresas de visão inovadora. A liberdade de administrar a própria carga horária é positiva: as equipes trabalham mais focadas nos resultados, promove-se um ambiente com autonomia e confiança e se estimula uma cultura voltada à responsabilidade e ao comprometimento.

É preciso destacar que as empresas que adotam o sistema flexível, mas não o administram adequadamente, sujeitam-se ao baixo desempenho de profissionais que não conseguem trabalhar com autonomia. Em alguns casos, há dificuldade de líderes com o desenvolvimento da equipe e o comprometimento na qualidade da comunicação entre os profissionais.

Alguns órgãos federais sinalizam, timidamente, avaliar a conduta dos líderes. É positivo. O corolário da má gerência é o desperdício dos recursos humanos, cujos prejuízos não são quantificados. O respeito profissional não tem sido uma prioridade no serviço público, o que é danoso para a motivação. O desrespeito parte do próprio chefe do poder executivo e as truculentas maneiras de não negociar e difamar através da mídia.

Collor e FHC patrocinaram intensas campanhas de desqualificação do serviço público, tratando-o como lócus de corrupção e desvios. As remunerações foram desvalorizadas, os direitos suprimidos e as garantias revistas ou reduzidas. No fim dessa trilha está a precarização do serviço público, o que o torna descartável e enseja soluções como terceirização ou privatização.

Tramita na Câmara Federal o Projeto de Lei nº 4.330/2004, cujo fim é regular a terceirização. A proposta permite terceirizar até atividade-fim e estabelece que o empresário contratante tenha responsabilidade subsidiária relativa pelas obrigações trabalhistas e previdenciárias. Assim, o contratante é responsável por direitos como o pagamento de férias ou de licença-maternidade exclusivamente se esgotados os bens da terceirizada.

Na seara federal, Lula deu início à revalorização do servidor, retomando os concursos e realinhando os vencimentos. Editou, porém, medidas que desestimulam o ingresso e a permanência no serviço público. O fim da aposentadoria integral obriga o novo concursado a contribuir para o fundo de previdência complementar se quiser fazer carreira e não organizou nem articulou os servidores em carreiras com algum sentido estratégico.

O governo Lula repôs o quantitativo de pessoal em patamar mais condizente com a necessidade, mas se comparar com a realidade em outros países, longe está de configurar o suposto “Estado inchado”, rotulado pela imprensa. O quadro de servidores é insuficiente e, sob os diversos pontos de vista, fraco e mal estruturado. Faltou reestruturar o Estado e a gestão pública, sem o que o ingresso de novos servidores atenderá só necessidades cotidianas. Enquanto isso, soluções ad hoc avolumam.

Os gargalos na execução das políticas públicas ensejaram a criação de carreiras incapazes de reter pessoal e criar, no aparelho do Estado, a expertise necessária para fazer deslanchar as políticas. Em entidades públicas ao lado, ante a necessidade de atacar pendências, veem-se carreiras recém-criadas ganharem um desestimulante contorno cartorial e tenderem, igualmente, a ser mera porta giratória por onde passam e passarão os aspirantes aos cargos mais bem remunerados na burocracia pública.

O governo Dilma Rousseff se ilude com as vantagens aparentes trazidas por esse estado de coisas, em especial, pela possibilidade de travar negociações partindo das divisões existentes ou criadas por suas próprias políticas. Nesse lamiré, é até possível seguir com um processo de valorização dos servidores, que parecerá “responsável” à luz dos debates macroeconômicos, mas que talvez não vá além.

Salvo exceções, o papel das corporações é, a cada rodada de negociações, postular salários e tentar evitar a redução de vantagens e prerrogativas. A grande imprensa faz o jogo dos estereótipos, com extensa cobertura dos desvios, talvez inevitáveis no serviço público (assim como no setor privado), mas também denunciando as carências para as quais um setor público bem estruturado pode até não ser condição suficiente, mas é condição necessária.

Num momento histórico em que as ruas das grandes capitais do país são tomadas pela demanda por melhores serviços públicos, é preciso tratar o assunto do setor público com mais profundidade. Faltam diálogo e respeito dos patrões com os trabalhadores, públicos e privados. Sem isso, a qualidade dos serviços só irá piorar!

Assuntos: Direito do Trabalho, Direitos trabalhistas, Trabalho

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