Coração, Coragem & Paixão

23/06/2012. Enviado por

Isabel Allende, escritora e jornalista chilena, traz experiências reais que envolvem direitos humanos de oprimidos, política, sociedade, violência, liberdade e morte e faz vislumbrar a importância de se ter um coração destemido

Devemos dizer ao povo o que se precisa saber e não o que se gostaria de ouvir.” (John. F. Kennedy). 

A escritora e jornalista chilena Isabel Allende fala de histórias reais envolvendo justiça, política, socialismo, lealdade, violência, liberdade e morte. Ao longo da vida compreendeu a importância do coração.

Allende exprime que só um coração destemido, determinado e apaixonado pode vislumbrar a verdade, a essência humana, motivar e determinar o destino. A humanidade precisa de gente inconformada e que discorde, de aventureiros, de forasteiros e rebeldes que questionem, subvertam regras e assumam riscos. Os bonzinhos e os bem comportados não fazem história.

A escritora se refere a mulheres determinadas, com coração, coragem e paixão. Wangari Maathai, do Quênia, recebeu um prêmio Nobel; Somaly Mam é uma ativista cambojana que luta contra a prostituição infantil.

Wangari plantou 30 milhões de árvores, mudou o solo e o clima de alguns lugares na África e a situação econômica de vários povoados. Somaly foi vendida a um bordel aos 14 anos. Viu garotas serem estupradas por homens que acreditavam que transar com virgens muito jovens os curaria da AIDS.

Aconteceu em 1998, num campo de concentração para refugiados Tutsi, no Congo. O lugar era tal qual um campo da morte. Quem não eram assassinado morria de doença ou de fome. Rose Mapendo e sete filhos, grávida e viúva são os protagonistas. Os soldados a fizeram assistir o marido ser torturado e morto.

De algum modo ela conseguira manter as sete crianças vivas. Meses depois teve gêmeos prematuros. Deu aos bebês nomes de comandantes do campo para ganhar-lhes a bênção e poder alimentá-los com chá preto, pois seu leite não os podia sustentar.

Certo dia os soldados invadiram sua cela para estuprar a filha mais velha. Ela a segurou e se recusou a largá-la, mesmo depois deles apontarem uma arma para sua cabeça. A família sobreviveu.

Um jovem americano, Sasha Chanoff, conseguiu colocar a refugiada e os filhos num avião de resgate americano que ia para Phoenix, Arizona, onde agora vivem bem. Na linguagem suaíli Mapendo significa grande amor.

O ano é 2005. Os fatos aconteceram em Bangladesh, numa clínica de mulheres. Jenny, higienista bucal americana, fora como voluntária trabalhar durante três semanas de suas férias.

A jovem estava preparada para limpar dentes apenas. Ao chegar, soube que não havia médico nem dentista e que a clínica era uma cabana cheia de moscas.

Do lado de fora inúmeras mulheres faziam fila para serem atendidas há horas. A primeira paciente tinha fortes dores devido a alguns molares podres. Jenny viu que a solução era extraí-los, embora nunca tivesse feito isso antes.

Ela arriscava muito e estava apavorada. Nem ao menos tinha instrumentos adequados. Felizmente trouxera anestésico. Rezou e foi em frente. No final, a paciente, aliviada, beijou-lhe as mãos. Naquele dia, a higienista arrancou vários dentes.

Na manhã seguinte, ao chegar à cabana, a primeira paciente a esperava junto com o marido. O rosto dela parecia uma melancia de tão inchado. Não se conseguia ver-lhe os olhos.

O marido, furioso, ameaçava matar Jenny, que estava aterrorizada. O tradutor explicou que a condição da paciente nada tinha a ver com a extração dos dentes. No dia anterior o marido a espancara por não estar em casa a tempo de preparar o jantar.

Wangari Maathai estava numa vila conversando com mulheres, no Quênia. Explicava que a terra ficara estéril porque elas cortaram e venderam as árvores. Ela as convenceu a plantar e regar novas árvores. Decorridos cinco a seis anos, havia uma floresta, o solo enriqueceu e a vila foi salva.

Os Governos e a filantropia ignoram que as sociedades pobres e atrasadas menosprezam mulheres. Estatísticas mostram que de 20 dólares gastos com programas direcionados a homens somente um é direcionado a mulheres.

Isabel ensina que as mulheres, trabalhando juntas – ligadas, informadas e educadas, podem trazer a paz e a prosperidade a este planeta. A autora destaca que em qualquer guerra a maioria das mortes é de civis, principalmente mulheres e crianças.

Que tipo de mundo nós queremos? Faz sentido participar da atual ordem mundial? Precisamos ter qualidade de vida que seja acessível a todos, não somente aos privilegiados. Devemos repudiar a impunidade, lutar contra o abuso do poder e o poder de abusar.

Os líderes do primeiro mundo definem sua realidade e forçam os outros países a aceitá-la e seguir regras por eles estabelecidas. Se as regras mudam, é sempre em benefício dos poderosos. Estímulos funcionam, mas não melhoram a economia, pois os incentivos servem primeiro aos ricos, em seguida aos pobres e, por último, às mulheres e crianças.

A escritora é veemente: “é preciso dar um basta ao poder que alguns exercem sobre muitos, seja pelo gênero, seja pela renda, seja pela raça ou classe”. Passou o momento de se fazerem mudanças fundamentais. É preciso que haja sensibilidade, vontade, responsabilidade e mais corações apaixonados como os de Wangari Maathal, Somaly Mam, Jenny e Rose Mapendo.

O mundo precisa urgentemente tornar-se um lugar bom. E por que não? Temos conhecimento, energia, talento, tecnologia e coração. Levantemo-nos, arregacemos as mangas e, COM O CORAÇÃO APAIXONADO, vamos lutar para melhorar o planeta! 

Assuntos: Direito Público, Direitos humanos, Política

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